

SALGUEIRO
Desfila na 6ª feira, 22/04, entre 23h30 e 23h50
Resultado da união entre as Escolas de Samba Depois Eu Digo, Unidos do Salgueiro e Azul e Branco, a “Academia” nasceu no Morro do Salgueiro, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Sob o comando de Nelson Andrade, deu uma guinada na história dos desfiles a partir dos anos 60, elegendo temas que exaltavam a contribuição do negro para a formação da identidade brasileira.
SAMBA-ENREDO
"Resistência"
Autores: Demá Chagas, Pedrinho Da Flor, Leonardo Gallo, Zeca Do Cavaco, Joana Rocha, Gladiador, Renato Galante
Intérpretes: Emerson Dias e Quinho do Salgueiro
Um dia meu irmão de cor
Chorou por uma falsa liberdade
Kaô Cabecilê, sou de Xangô
Punho erguido pela igualdade
Hoje cativeiro é favela
De herdeiros sentinelas
Da bala que marca feito chibata
Vermelho na pele dos meus heróis
Lutaram por nós contra a mordaça
Ê, mãe preta, mãe baiana
Desce o morro pra fazer história
Me formei na Academia
Bacharel em harmonia
Eis aqui o meu quilombo, escola
Ê, Galanga, ê… Rei Zumbi, Obá
Preta aqui virou Rainha Xica
Sou a voz que vem do gueto
Resistência no tambor
Pilão de preto velho eu sou
No Rio batuqueiro
Macumba o ano inteiro
Não nego meu valor, axé
Gingado de malandro
Kizomba e capoeira
Caxambu e jongo, fé na rezadeira
Tempero de Iaiá, não tenho mais, sinhô
E nunca mais, sinhá
Sambo pra resistir
Semba meus ancestrais
Samba pelos carnavais
Torrão amado o lugar onde eu nasci
O povo me chama assim
Salgueiro… Salgueiro…
O amor que bate no peito da gente
Sabiá me ensinou: sou diferente"
Copyright: Editora Musical Escola de Samba Ltda.

ENREDO
"Resistência”
Carnavalesco: Alex de Souza

Maior cidade escravista das Américas, o Rio de Janeiro foi o palco da assinatura da Lei Áurea, diploma legal que extinguiu a escravidão no Brasil. Abolir o trabalho escravo, porém, não foi suficiente para promover as mudanças tão desejadas por todos nós. Abandonados pelo Império, continuamos sem condições para uma existência decente. Libertos, tornamo-nos prisioneiros da miséria nos cortiços, nas ruas, nos trabalhos precários e na ausência de direitos humanos e sociais básicos. Discriminados e marginalizados, sem cidadania, sem alternativas para uma vida digna, fomos lançados à nossa própria sorte. Excluídos – no dia seguinte, na década seguinte, no século seguinte –, vivemos, até hoje, sufocados.
Hoje, ser preto no Rio de Janeiro e no Brasil (país que tem a segunda maior população preta no mundo) é ter que lutar diariamente por respeito. Lutar para não ceder nem sucumbir à segregação promovida pela sociedade e pelo Estado. É recusar os abusos e a submissão pela ausência de políticas públicas que poderiam promover melhores condições de vida. É não se deixar enganar pela pseudo “democracia racial”, sempre camuflada por hipocrisia, eufemismos ou subterfúgios mal disfarçados.
Aqui, ser preto é, acima de tudo, um ato de RESISTÊNCIA.
E resistir é ter nossa história, antes negada e silenciada, ressignificada e recontada no carnaval, lugar de alegria, mas também de diálogo com o mundo. Ao som dos tambores ancestrais, o Salgueiro foi pioneiro na introdução da temática africana nas escolas de samba. Seguiu na contramão da narrativa “oficial” do país e deu vez e voz aos personagens, heróis e protagonistas pretos. Como um Griot, transmitiu ricas histórias por meio de enredos que revelam a participação da escola no processo de resistência cultural e de luta contra o racismo institucional.
Resistir é plantar um legado nos “chãos” do Rio de Janeiro. Criamos Quilombos, lugares de resistência e insurgência negra, com estrutura politica, econômica e social africana. Revivemos a história nas marcas deixadas na Pequena África, região que se destaca como lugar de acolhimento e também por personagens como as tias baianas festeiras da Praça XI, cozinheiras e Mães de Santo celebradas até hoje pela fantasia e pelo rodopio que as nossas Alas de Baianas exibem. Foram elas que formaram o espaço sociocultural do samba, entendido como extensão dos terreiros de Candomblé.
Resistir é professar nossa fé. Por ela nos unimos nas irmandades religiosas que faziam filantropia por justiça social. Construímos os terreiros de Candomblé, templos que são uma reinvenção do macro universo cultural e religioso trazido do continente africano. Desenvolvemos o Culto Omolokô e criamos a Umbanda, religião afro-brasileira surgida no Rio de Janeiro, que sincretiza elementos do Candomblé, do Espiritismo e do Catolicismo.
Resistir é expressar nossa cultura para manter a continuidade de valores civilizatórios. Com a benção dos orixás, entramos na cozinha, espaço de saber, para alimentar o corpo e a alma. Para transformar alimentos, hábitos e a própria culinária brasileira. Ao som dos atabaques, “compramos o jogo” nas rodas de capoeira e dançamos jongo ou caxambu. Pisamos nos gramados para expulsar os cabelos esticados e o pó-de-arroz que “disfarçavam” a cor da nossa pele. Brilhamos nas passarelas e nas ruas com as formas, símbolos, cores e texturas de nossa moda.
Resistir é fazer arte. Inquietos por representatividade e pela visibilidade que insistem em nos sonegar, criamos nossas próprias narrativas e espaços nas artes cênicas, como o Teatro Experimental do Negro. Assumimos nosso protagonismo e nos fizemos enxergar também por meio da literatura, da dança, das artes plásticas. Espalhamos para o mundo a vocação artística que reside em nós.
Resistir é festejar. É revelar nossa maneira de ser por meio das festas, do modo de celebrar a vida, do entusiasmo que propicia o resgate de nossa identidade e afirmação existencial. Desde o chorinho na Festa da Penha, passando pelas escolas de samba, afoxés e blocos afro. Pelo pagode à sombra da tamarineira, pelo funk carioca e pelo charmoso baile sob o viaduto de Madureira.
Resistir é existir. É continuar a reverberar a coragem dos nossos heróis contemporâneos de pele preta. É saber que somos frutos de uma mesma raiz de igualdade, fé, esperança, arte e vida. É crer que nenhuma luta foi em vão. Que nenhuma luta será em vão. É persistir no sonho de igualdade para que ele não seja silenciado. É entender que, juntos, em cada passo e em cada pequena mudança, seguiremos adiante. E é ter certeza que no dia em que fizermos cair todas as máscaras da discriminação, conseguiremos, enfim, respirar.
Autoria e curadoria: Dra. Helena Theodoro
Concepção: Eduardo Pinto e Marcelo Pires (Diretoria Cultural)
Texto: Paulo Barros
FICHA TÉCNICA
Fundação: 05/03/1953
Cores: Vermelho e Branco
Presidente de Honra (In Memoriam): Djalma Sabiá
Presidente: André Vaz da Silva
Carnavalesco: Alex de Souza
Mestres de Bateria: Guilherme e Gustavo
Rainha de Bateria: Viviane Araújo
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Sidcley Santos e Marcella Alves
Comissão de Frente: Patrick Carvalho
Quadra: Rua Silva Teles, 104 - Andaraí - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20541-110
Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 08) - Rua Rivadávia Correa, nº 60 - Gamboa - CEP: 20.220-290